30 de agosto de 2010

Para futuros pais-obsessivos-controladores



Dogtooh(Kynodontas no original) é o terceiro filme do diretor grego Yorgos Lanthimos, e o enredo é tão inesperado quanto a nacionalidade da produção.

Numa casa de campo no interior, uma família cria seus 3 filhos da maneira mais super-controladora possível: Dizendo-lhes que o mundo fora do perímetro da casa é cheio de perigos, os educam distorcendo completamente a realidade que conhecemos. Os filhos são ensinados que "zumbis" são pequenas flores amarelas, "o mar"é o braço da cadeira, e "aviões" são brinquedos. O 'regime disciplinar' também é uma coisa bem rígida e os momentos de repreensão aos filhos podem ser facilmente comparados com o tratamento dado para disciplinar cães.



A única pessoa fora da família que frequenta a casa é uma colega de trabalho do pai, Christina, contratada para satisfazer as necessidades sexuais do filho. E como desgraça pouca é bobagem, o pai ainda inventa a existência e morte de um suposto irmão deles, assassinado pela criatura mais perversa do mundo: um gato.

O roteiro pode parecer muito excêntrico, mesmo porque algumas de suas cenas são bem fortes, mas não deixa de ser um retrato dos dias de hoje. Quando não são os pais que querem evitar qualquer sofrimento que o filho possa ter, é o próprio filho que no medo de algum infortúnio se isola na "segurança" do lar.

Quanto à distribuição aqui nas terras tupiniquins parece que ainda não tem nada oficial, mas pra isso existe torrent né?

26 de agosto de 2010

A linha tênue entre o artifício e o brega/kitsch




Com Britney na capa da edição Fall/Winter japonesa da POP Magazine, Takeshi Murakami(do qual eu já falei nesse post aqui) faz o styling da cantora bem como a edição das fotos.
Quem já usou o puricute deve ter tido um déjà vu com a capa. Esse site permite editar suas fotos adicionando à elas várias molduras/adesivos/efeitos para deixar a foto mais "fofa". Assim como o site, Murakami usa de tais referências às cabines de fotos japonesas, o que não é surpresa visto que ele é um representante da pop art do país.

O interessante de se notar (tanto na revista, quanto no site) é a aura de coisa over, quase kitsch, que envolve ambos os casos: É tudo muito brilhante, colorido, chamativo, os espaços são todos ocupados e não há possibilidade de "descanso" do olhar. Um bombardeio de fofura, eu diria.

E como mencionar o kitsch sem lembrar do nosso brega, aquela música melosa sobre de dor de cotovelo ou traição que toca em 10 a cada 10 postos de gasolina do interior ou bar decadente; ou aquele bibelô da loja de R$1,00; ou então aquela camisa comprada na banca de promoções.

E o que há de interessante nesse brega/cafona/kitsch você deve estar se perguntando? Na minha opinião, o maior trunfo de qualquer coisa taxada com algum desses nomes é o fato de tais não serem tão sóbrias/sérias, é como se, uma vez taxadas de duvidosas, elas se deligassem de qualquer responsabilidade quanto à sofisticação, elegância ou moderação.
Um exemplo disso são as obras de Jeff Koons:
 

E mais recentemente o clipe todo fofo-glitter-ouro-unicó
rnios da MIA:





E o que são o kitsch e o brega senão o artifício em doses cavalares? O batom é um bom exemplo, se usado de maneira comedida, correta, ele vai aparentar o mais natural possível; diferentemente de quando usado sem tanta destreza e discrição, que é quase como colocar uma placa de "OVER" no pescoço da indivídua.

Leigh Bowery e modelo no desfile F/W de Alexander McQueen
Se a estética do kitsch é tendencia, ou se a formalidade e a elegância estão com os dias contados eu não tenho idéia. Mas uma coisa é certa: o kitsch é bem mais divertido.

12 de agosto de 2010

Fall/Winter 2011Campaigns

Hermés


Oscar de la Renta







E as melhores:







PS.: E quanto à campanha da Miu Miu Eyewear, abaixo, só digo uma coisa: quack!
 

fotos via [DesignScene]

10 de agosto de 2010

Campanha pela real beleza BOZZANO

A Geil Magazine, publicação alemã de moda e comportamento voltada para o público masculino, circulará a partir do mês que vem a quarta edição de sua revista que tem como objetivo "resgatar a beleza masculina" da feminilidade que os modelos atuais aparentam.

Com 5 modelos diferentes para cada capa, a revista visa salvar esse homem que dizem estar em perigo de extinção. 

Logicamente que tal alegação é uma resposta à heidi-slimanização ocorrida em muitas grifes, onde modelos antes grandes e sarados foram substituídos por jovens de estatura média além de medidas e peso mínimos, além de traços mais delicados e fisionomia por vezes andrógina.
Desfile S/S 2011 de Jean-Paul Gaultier
Modelos do desfile S/S 09 da Burbery Prorsum
Desfile S/S 2011 Gucci
Campanha A/W 09 da Prada, fotografada por Slimane
Porém, dando uma olhada nas edições anteriores da mesma revista, não é nada difícil encontrar editoriais com esses modelos que a revista diz terem distorcido a imagem masculina. Mesmo numa das capas pode-se notar um pouco da feminilidade e delicadeza que a revista alega colocarem o homem  em perigo.

Outro aspecto contraditório é o fato de não estarem inclusas etnias que não as européias nesta edição, pois não há nenhum "representante" latino, asiático, indiano ou do oriente médio. Será que somente os europeus apresentariam esse perfil de virilidade que a revista quer resgatar? Creio que não.

Acho que a iniciativa em si é uma coisa bem válida, como um aviso para lembrar que também há beleza em modelos que não sejam adolescentes esbeltos. Mas, se tomarmos tal publicação como uma afirmação do que deve ser o novo padrão de homem, estaremos impondo novamente limites que a moda masculina levou anos para superar. 

Eu pelo menos, acho que explorar belezas plurais seria algo bem mais considerável, não soaria tão ditatorial e, claro, seria  bem menos monótono.

7 de agosto de 2010

Sobre uma série, muitas roupas, personalidades e pedaços


Já faz um tempo que venho acompanhando, a série United States Of Tara, produzida pelo canal Showtime. Tendo como roteirista Diablo Cody(a mesma de Juno) a série conta a história de Tara, uma mulher que sofre de transtorno dissociativo de identidade, tendo personalidades múltiplas(alters) que a qualquer momento podem assumir o controle de seu corpo e "tomar seu lugar".

Já na primeira temporada são apresentadas 3 alters da personagem que rendeu a Toni Collette um Emmy e um Golden Globe:

T.: uma adolescente de 16 anos bem bitch e revoltada. Pega roupas emprestadas da filha de Tara, Kate, e se mostra como a alter mais incontrolável.

Buck: um ex-militar que serviu na Guerra do Vietnã e diz não ter pênis por que este explodiu na guerra. Em vários momentos dá pra perceber que ele é como um guardião das outras alters.

Alice: uma housewife tão perfeita que parece saída dos anos 50. Por vezes ela parece querer  tomar o Lugar de Tara, dizendo ser ela a "personalidade verdadeira" e Tara uma das alters.

E tão interessante quanto essas múltiplas personalidades presentes em uma pessoa só, é a maneira como tais personalidades se vestem. Na maioria das vezes é possível dizer,  apenas pela roupa, qual alter está "no comando" . Esse é um dos casos onde a indumentária é uma parte, se não essêncial, de grande importância para a construção e caracterização das personalidades que Tara possui.

E por mais divergentes que pareçam, as alters completam Tara como que tomando seu lugar quando esta se vê frente a uma situação em que não saberia como agir, ou decidindo por escolhas que Tara, por ela mesma, não conseguiria fazer.

Nisso consiste o trunfo da série: apresentando Tara e seus vários pedaços, é impossível não comparar com certos momentos em que nos vemos igualmente fragmentados. Fragmentos estes que não são isolados, mas sim interdependentes e complementares.Só que, diferentemente de Tara, nós transitamos por esses fragmentos de maneira bem mais sutil. Tão sutil que por vezes nem nos damos conta.




Pra quem se interessou dá pra encontrar a série, que possivelmente terá uma 3ª temporada, em vários sites por ai. Vale a pena dizer que a trilha sonora também é ótima, de Billie Holiday a The Kills. Tão múltipla quanto a própria personagem.







2 de agosto de 2010