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Louis Vuitton gigante em frente à loja da grife em Shangai |
Assim como qualquer nicho econômico, a criação e consumo de moda na China vem chamado atenção tanto de marcas ocidentais quanto de investidores, que encontram no país dos fogos de artifício um mercado em crescente expansão e com potencial de consumo gigantesco.
Entretanto, ao passo que este consumo de luxo aumenta progressivamente, a produção desses bens pelo próprio país sofre uma espécie de auto-boicote pelo povo chinês, que pode ser percebido de maneira bem delineada no
consumo de marcas ocidentais como Louis Vuitton, Gucci, Chanel, Dior, Balenciaga, Prada, Calvin Klein e afins. O caso é que, por ter se transformado numa espécie de "país da mão de obra" a China produz quase tudo que é comercializado mundo afora, e dessa maneira, comprar um carro produzido no país mostra-se como algo de menos prestígio do que comprar uma
mercedes-benz norte-americana, por exemplo.
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Agyness Deyn na capa da Vogue China de nov/2008 |
Ainda assim, mesmo que o mercado local mostre-se "hostil" para a criação e venda, muitos designers chineses despontam não somente no país como internacionalmente. E, mais interessante ainda, é a maneira com que estes conseguem desvenciliar-se do clichê etnico/exótico consumido no ocidente sem perder características que remetem tanto aos costumes, tradições e história , quanto a atual situação socio-econômica do país .
Dentre os muitos expoentes da moda chinesa, gosto particularmente de duas designers que, por mais divergentes que sejam na criação de suas peças parecem de certa maneira compartilhar alguns aspectos condizentes à produção de moda: Ma Ke e Guo Pei
Ma Ke, com sua marca
Exception de Mixmind, propõe um design de moda mais orgânico, de construção mais sutil e menos acelerada. O processo criativo de sua coleção de 2007 foi documentado e utilizado no filme
Useless(無用/Wuyong) que contrapõe sua criação com as de marcas,tanto ocidentais quanto orientais, onde a frequencia de mudança é exageradamente alta.
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Ma Ke nos bastidores do desfile-instalação em 2008 |
A estilista propõe um pensamento de moda que desacelere um pouco a lógica capitalista que parece ter hoje em seu país a versão mais kitsch-hiperbólica de toda a história. Refletindo sobre essa incessante descartabilidade das coisas, é na contramão dessa rápida temporalidade que Ma Ke trabalha quando, por exemplo, enterra suas roupas por um longo período antes de expô-las.
Ao estampar o tempo em suas criações, seja enterrando-as, ou utilizando-se de processos que demandam uma maior quantidade de tempo, Ma Ke coloca em questão algo pertinente não somente ao mercado de moda chinês como também ao mercado ocidental com suas frenéticas coleções e a necessidade (questionável) de sempre apresentar algo novo. Indo bem além dos habituais fashion shows, tanto em execução, pensamento e ideais, as coleções da estilista tiveram exibições no Victoria & Albert em Londres e no Museu Nacional de Arte da China
E ao passo que Ma Ke procura uma temporalidade mais lenta, sua conterrânea
Guo Pei parece embalar nesse crescente desenvolvimento da China e tomar para si a responsabilidade de representá-lo vestivelmente. É perceptível a semelhança das criações da chinesa com as feitas pelas Maisons de Couture francesas, bem
como o próprio NYTimes observou no ano passado quando a estilista ganhou notoriedade ao ter sua criação utilizada por Li Bingbing no Festival de Cinema de Veneza.
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A atriz Li bingbing |
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Guo Pei no backstage do remake chinês da Opera italiana 'Tosca' em 2009 |
Trabalhando de maneira suntuosa com materiais dos mais caros, Guo Pei desenha silhuetas e propõe estruturas que, mesmo tendo referências do imaginário chinês, são mais do que mera produção figurativa. Além disso, a estilista tem uma forte influência de óperas, meio pelo qual surgiu seu interesse em roupas. Não é a toa que suas criações e formas incomuns tenham chamado atenção do Formichetti(stylist da Gaga).
Contudo, é perceptível na designer algo que parece um 'não levar tão a sério' estatutos que aqui no ocidente são quase como leis. Tanto que, mesmo o fato de ter suas roupas mostradas à mother monster, ou a recusa desta de usá-las nos shows(alguns vestidos pesavam mais de 18 quilos!) parecem não ter tido muita importância para estilista.
E por mais que Guo Pei já possua 'compradoras fiéis', muitas de suas criações, assim como as de Ma Ke tocam na ferida comercial da moda de maneira exemplar quando se propõem a criar peças que, mais do que lucro, procuram no design uma força produtiva a ser pensada e experimentada.
Dessa maneira, tão paradoxalmente quanto a Gefühlsträger que eu já falei
nesse post, as duas estilistas fazem, roupas que transgridem a função original de cobrir o corpo e atestam ,cada uma da sua maneira, uma existência quase escultórica.
Fotos [ via
!IT UP,
ChinaDaily,
Cultura China,
DesignBoom,
Experimental Learning Report,
FowardMag,
SiOL,
SFStyleoscope,
StyleFrizz,
Sulekha.com,
The Boy from Klang ]