3 de março de 2012

made in japan

Lembro que há um tempo atrás, num desses blocos de anime perdidos na loucura que é a TV aberta conheci Ranma 1/2. Anime adaptado de um manga da autora Rumiko Takahashi onde o jovem Ranma Saotome é vitima de uma maldição onde toda vez que é molhado com água fria se torna uma menina. Condição que é revertida apenas quando ele é novamente molhado, mas dessa vez com água quente.


A situação, por mais cômica que fosse, serviu de ponto de partida para várias discussões de gênero que me rodeavam na época: "Qual seria o resultado social de uma repentina transformação biológica que pudesse trocar uma pessoa de sexo?"
E se a bíblia disse uma vez que homem "do pó vieste e ao pó retornarás", o meu questionamento do Japão veio e ao Japão retornou:






Sputniko!(com exclamação mesmo) é o alter-ego artístico de Hiromi Ozaki, uma artista nipo-britânica formada na Royal College of Arts e que se foca no trabalho com próteses corporais. Contudo o que procura discutir com elas vai além do mero aperfeiçoamento corporal e do feminismo barato no momento em que especula até que ponto tais próteses modificariam as relações que a pessoa trava com outras e com ela mesma. Sua 'Menstruation Machine' é como a água quente de  Ranma Saotome. 
A própria artista afirma esta postura em sua outra obra 'Penis Cybérntique' onde criando uma prótese peniana removível ela experimentava situações muito comuns ao sexo oposto:

"Irá essa nova parte do corpo me fazer agir de maneira diferente? Terei um 'fantasma' de um penis quando não mais usa-lo?"
E assim ambas as obras circundam uma mesma área quase que deslocando vivências de gêneros. Contudo, mesmo seu trabalho sendo de tal qualidade, o que mais me chamou atenção quanto à sputniko! foi a maneira com a qual ela trata suas obras: Presentes também em exposições de museus, contudo, o maior foco da artista é proporcionar acesso à obra através de seus vídeos publicados no youtube. Videos nos quais ela é responsável por bem mais que apenas a obra,  pois ela canta, edita e cria os conceitos de cada um.


Além disso, a capa 'pop' que indiscutivelmente reveste muitos de seus trabalhos remove um pouco do peso e da seriedade de trabalhos como o de Stelarc e por vezes os de Eduardo Kac, mesmo tendo com eles alguns  pontos tangentes.
E é justamente por esse aproximamento obra-espectador que o trabalho de Hiromi Ozaki funciona, não tanto afastando pela estranheza da situação mas convidando qualquer um a pensar como seria, e que resultados provocaria esta situação tão peculiar.


Hiromi Ozaki, ou sputniko!: acabando com o trabalho de arco-íris mágicos 

Fotos [via  AdvertisingAge & Sputniko!]

PS.: O mangá Ranma 1/2  foi publicado em 87(e adaptado para a TV no ano seguinte) no Japão quando já perpassava livremente(e de maneira muito divertida) por relações de gêneros que hoje no Brasil querem tratar como doença. O que diria a bancada evangélica quanto a uma produção dessas?

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