28 de junho de 2010

Sobre uma música e toda a insegurança do mundo

Não conheci, até o presente momento, alguém que estivesse plenamente satisfeito com o corpo que possui. Desde pequenas alterações, até drásticas cirurgias, parece que todos sentem essa necessidade de mudar alguma coisa no seu corpo. E, claro, seria hipocrisia minha dizer que não sinto o mesmo.

Junto com essa vontade de alterar o corpo, também vêm a vontade de mudar de roupas, de comportamento, de vida, de amigos, costumes, etc. E mesmo não sendo regra geral, a insegurança quanto à nossa imagem parece ser a causadora de tudo isso, de toda essa necessidade de verificar, a todo momento, se estamos "corretos".

E justamete nesse contexto de não estar confortável, seguro, com quem se é (!?), que encontro a música de Polly Scattergood "I Hate The Way"( a versão sem o radio edit)

Com uma voz doce, que beira o sussurro, a letra enumera os "defeitos" que uma garota alega ter, e as várias tentativas dela, de agradar a pessoa amada:

"Maybe if I skip my dinner,
Make myself pretty and thinner,
Maybe then he'll love me and stop looking at the other girls."

Porém, o que ocorre é que, justamente por tais mudanças infidáveis, e um não comprometimento com o que ela realmente é, o garoto critica-a:

"He said "Girl, you've got a million different faces.
So why'd you put on that disguise?"

Isso nos faz questionar: até que ponto seria necessário uma sociedade, onde a imagem pessoal sempre tem photoshop? Onde uma insegurança coletiva, faz multidões gastarem,e muito, em meios para corrigir os próprios "defeitos"? Meios esses que, mesmo prometendo a felicidade, nem sempre a trazem.

Principalmente no âmbito da moda, muita gente procura a qualquer custo se adaptar a alguma  padrão, sem lembrar que ele, por mais que pareça ser eterno, é passageiro. Hoje é, principalmente, a questão do peso, -vide as críticas feitas às modelos "gordas" que desfilara para a Cia Marítima no SPFW- na Idade Média eram as testas grandes, e no Renascimento foram as perucas.

Retrato de Margaretha, de Van Eyck

Por estarmos em uma sociedade onde as mudanças se fazem cada vez mais rápidas, é difícil assumir uma postura considerada correta hoje, sendo que amanhã ela pode se mostrar completamente equivocada.
Não quero dizer que mudanças não sejam boas, elas são sim. Mas tentar mudar, para seguir uma beleza vigente, ou para agradar um determinado grupo é, quando não um ciclo vicioso, ineficiente. Os gostos sempre vão mudar, e você não precisa(nem deve) necessariamente acompanhá-los.

PS.: Recomendo MUITO a leitura desse post do blog Meninos Podem

Fotos via [Lauren Peraltakillermusic, Academic Dictionaries & Encyclopedias]

24 de junho de 2010

Amo muito todos esses


" Nós já sabemos quem são os bonzinhos, os malvados, e quem vai se apaixonar por quem. O que estou fazendo é apenas dar às pessoas o que elas querem - a essência pura de um superstar. Mas claro, o que eu não posso responder, é em que experiência isso resulta."
Com esse discurso, à la Andy Warhol, Candice Breitz discorre sobre sua exposição, ocorrida faz  tempo (em 2000), mas que eu só tive conhecimento hoje. Nascida em Joanesburgo, e doutora em história da arte pela Columbia University em NY, Breitz possui como suportes de criação para suas obras, desde cartas e apeis de livro, até anúncios em revistas/jornais.

Mais especificamente nesse trabalho, chamado Soliloquy(monólogo), Breitz edita trechos de 3 filmes - Basic Instinct, com Sharon Stone; Dirty Harry, com  Clint Eastwood; Witches Of Eastwick com Jack Nicholson - selecionando apenas os momentos onde o protagonista está presente, e colocando-os em sequência.O resultado dessa compilação são poucos minutos - entre 7 e 14 - onde o protagonista, o superstar, realmente aparece. 

E uma vez que, a própria Breitz concorda com o que Warhol dizia sobre os filmes - "When you go to the movies it's to see the superstars" - é como se, no final das contas, estivessemos indo ao cinema só por esses poucos minutos onde o astro/estrela aparece. 

Particularmente, achei genial essa sacada da Candice: pegar o "sumo" do filme, e transformar a experiência de assisti-lo em algo como um fast-cinema.Obviamente, não se trata de todos os filmes produzidos, mas é um aspecto ainda presente em muitas produções que, apoiando-se na fama do ator protagonista, deixam a desejar em outros quesitos do filme. Como se a existência desse fosse dependente apenas do protagonista.

Para mais informações e trabalhos de Candice, é so visitar o site dela

23 de junho de 2010

Para discípulos de Xerxes



Editorial  da revista gringa Tush, com a modelo Hanah Holman fotografada por Txema Yeste e com styling feito por Alberto Murtra.

Fotos: Reprodução/TXEMA YESTE

22 de junho de 2010

Pra não dizer que não falei de SPFW

André Lima

Do Estilista

Gloria Coelho
Se eu caísse de uma dobra no tempo-espaço, vestiria isso

Reinaldo Lourenço


João Pimenta
Porque renda, e laços são coisa de macho

Ronaldo Fraga




Alexandre Herchcovitch

pixel-a-like
Fotos [via FFW]

21 de junho de 2010

Vá de paint


Ou o estagiário de tratamento de imagens deu uma escorregada, ou o xampu da Abbey  Lee é tão bom que cria um halo em torno do cabelo dela.

foto via [The FashionSpot]

9 de junho de 2010

A superfície não existe sozinha

Explorando as possíveis interseções entre alguns trabalhos de moda e arte contemporânea é a proposta da exposição The Art Of Fashion: Installing Allusions no museu Boijimans em Rotterdam. Realizada no ano passado, a exposição explorava essa linha tênue através de instalações e roupas criadas por 25 estilistas, dentre eles Anna-Nicole Ziesche, Viktor&Rolf, Naomi Filmer, Hussein Chalayan e Walter Van Beirendonck.

"2357-The Sequel" de Beirendonck

"Remote Control Dress" de Chalayan

"No references" de Christophe Coppens

 Máscara de Chocolate de Naomi Filmer

"Childhood Storage"de Anna-Nicole Ziesche 

"Carapace" de Dai Rees

 "Soundsuit" de Nick Cave 

Porém mesmo com tal aproximação, críticos disseram que tais campos de criação ainda assim deveriam permanecer separados, mesmo existindo estilistas tão ousados em suas criações. E não apenas nessa exposição, como por várias vezes, observo artistas criticando duramente a moda, como algo impossível de se construir algum significado que seja, por esta se tratar de um meio muito superficial. Obviamente não tenho o conhecimento suficiente para dizer o que é, ou o que não é arte, mas percebo que a moda não deixa de ter um poder de criação, seguido de uma contestação a um padrão em voga. E assim como muitas obras de arte, trabalhos como os expostos acima mostram novos modos de pensar não apenas a moda, mas a relação desta com o próprio corpo e com tudo ao seu redor.
Taxá-la, metodicamente, de "não-arte" é um julgamento, além de muito precipitado, superficial. O mesmo superficial que eles tanto criticam.

8 de junho de 2010

Vanilla, Strawberry...



Nem o refrão infinito de Alejandro consegue hipnotizar mais do que Fujiya&Miyagi

7 de junho de 2010

Por um pôquer mais elegante


Feitos por Connie Lim, essa série de cartas são peixe pequeno, frente ao grande, e igualmente belo, trabalho da ilustradora/costureira que também já fez ilustrações para a coleção 2009 de McQueen:

Pra ver outras ilustrações de Connie é só ir no portfólio online dela.

Fashion Rio verão 2010

Tão aleatório quanto o de costume, escolhi algumas coisas que me interessaram nessa temporada carioca:

Aqcuastudio




O próprio site da marca parece ter um viés completamente diferente do que foi apresentado no desfile. Sendo uma marca com um proposta de vender "vestidos de festa", quase não vemos sentido em tal denominação ao olhar as fotos do desfile.
Comparações com os volumes e modelagens Viktor&Rolfianas são óbvias, mas sem serem literiais.


Filhas de Gaia


Parece que a marca ainda não deixou de lado o '"floral balenciaga" da última estação,e  talvez essa insistência seja o motivo de eu ter gostado tanto das estampas do desfile. Mas tal insistência não veio colocada da mesma maneira do desfle anteiror. Além dos florais, outros elementos estão presentes na estampa, elementos esses que não são convenientes definir, uma vez que a graça da estampa é ser essa coisa toda "enevoada". É como se tivessem misturado as estampas num liquidificador e jogado na neblina.

Isabela Capeto





É uma daquelas coleções que praticamente não dá pra você comentar sem mencionar o "trabalho de fabricação" da peça. Trabalho esse que se utilizou de vários materiais para criar formas, texturas e brilhos nas peças. E impossível não associar algumas peças à pratica artesanal de algumas partes do Brasil, e além disso tem os sapatos... ahhh os sapatos!! Mesmo dourado não sendo minha cor favorita, gostei desse tom opaco do material, que não deixou aparentar aquela presença toda carnavalesca que o dourado(o metálico, claro) e cores saturadas tem o poder de invocar

Lucas Nascimento



Acho válido quem pega uma coisa de um contexto e coloca em outro. E Lucas Nascimento é um exemplo disso, afinal quem apostaria numa coleção de verão onde um dos materiais principais é o tricô? Tirando-o do patamar de "roupa de gente velha" Lucas Nascimento apresenta formas e cores bem mais sóbrias do que os outros desfiles, o que contrasta com o aspecto descontraído do cabelo e make das modelos, que de acordo com o próprio estilista, deveriam aparentar saídas do banho, com um cabelo displicentemente amarrado.

fotos: [via FFW]